Por Aline Bronzati, correspondente
Nova York, 17/11/2023 - Os investidores estrangeiros demonstram um "otimismo cauteloso" com a economia brasileira em 2024. O rumo das contas públicas preocupa, mas em menor intensidade frente aos locais, que acompanham de perto os debates sobre a possibilidade da mudança da meta fiscal para o próximo ano. Essa foi a percepção na 13ª edição do CEO Forum, evento promovido pelo Bradesco BBI, em Nova York, nos Estados Unidos, nesta semana, conforme o vice-presidente de negócios de atacado do Bradesco, Eurico Fabri.
Realizado no luxuoso hotel Mandarin Oriental, em Manhattan, o evento reuniu cerca de 350 investidores, sendo a maioria estrangeiros, dentre eles, os principais fundos americanos baseados em locais como West Coast, Boston e Nova York, e também Ásia e Europa. Do outro lado, em torno de 100 companhias brasileiras marcaram presença, representadas pelo 'C level', ou seja, a alta liderança, no evento, que foi palco para mais de 940 reuniões.
No palco, destaques para nomes como o do ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) de Nova York William Dudley, e de Cliff Asness, cofundador do fundo americano AQR Capital Management. Já do lado do Brasil, participaram os secretários do ministério da Fazenda, Bernard Appy, de reforma tributária, e Guilherme Mello, de política econômica, além do secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Gustavo Guimarães
"O investidor estrangeiro demonstra um otimismo cauteloso com a economia brasileira em 2024", diz Fabri, em entrevista ao
Broadcast. De acordo com o executivo, há uma preocupação com a intensidade do crescimento do Brasil no próximo ano, que deve desacelerar, conforme as principais projeções macroeconômicas. O próprio Bradesco vê o País avançando 2% em 2024 contra alta prevista para este ano de 2,7%.

Foto: Diego Pisante/Divulgação
Apesar disso, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil pode surpreender em 2024, como já ocorreu neste exercício, projeta Fabri. Dentre os fatores que podem contribuir para uma maior expansão, está a série de reformas que o País realizou nos últimos anos.
A mais recente delas é a reforma tributária, cuja expectativa é de aprovação neste ano. O impacto, porém, é subestimado por investidores estrangeiros, de acordo com consultorias internacionais. A razão é justamente a dificuldade de calcular o quanto de tração adicionará ao PIB brasileiro e ainda o fato do seu impacto se dar no médio e longo prazo. O governo tem dito que espera que a reforma tributária incremente o crescimento potencial do País em 12% durante um período de 10 a 15 anos.
Para o curto prazo, o investidor estrangeiro também monitora de perto a situação fiscal no País. O alerta foi reforçado após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionar a meta da Fazenda de zerar o déficit primário, ou seja, tirar o Brasil do vermelho, em 2024. Por ora, contudo, o governo decidiu deixar tudo como está, em uma vitória do ministro Fernando Haddad em relação à ala política, que defende uma meta fiscal de -0,5% no próximo ano.
De acordo com Fabri, os estrangeiros estão menos preocupados com a questão fiscal do que os domésticos, uma vez que, ao ampliarem a lupa, consideram outros países pares que gastaram mais na pandemia. Também favorece o Brasil o fato de ter começado a subir os juros de maneira prévia e, com isso, domado a inflação até mesmo antes de economias desenvolvidas como os Estados Unidos e países da Europa. "O Brasil foi primeiro a convergir a inflação", ressalta o vice-presidente do Bradesco.
Quanto à política monetária, a queda dos juros está contratada, mas o ritmo depende do futuro das taxas nos EUA, segundo Fabri. O Bradesco prevê a Selic em 9,25% no próximo ano. Há algumas semanas, o banco chegou a cogitar elevar essa projeção. A última reunião do Federal Reserve e os dados da inflação nos EUA deram ânimo aos mercados em Wall Street, com a leitura de que as taxas de juros nos EUA atingiram o pico. Resta saber quando vem o primeiro corte e como isso impactará na condução da política monetária no Brasil. "O piso da Selic depende dos EUA", conclui Fabri.
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